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Institucional

É muito importante olhar para os nossos colaboradores e vê-los rir todos os dias

Portugal

Nasceu em 1996, em plena crise do setor têxtil no vale do Ave, mas sob a estratégica gestão de Luís Guimarães a Polopiqué depressa vingou.

Apostando numa expansão vertical, que controla a produção desde a fiação à tecelagem, passando pela confeção e distribuição do vestuário, tem mais de 100 milhões de euros de produção, exporta 97% do que produz e tem as lojas Zara como principal cliente.

Entrevista conduzida por António Perez Metelo

Luís Guimarães, o Grupo Polopiqué é muito pouco conhecido, mas merecia sê-lo mais, pela dimensão que adquiriu nestes 19 anos de vida, não acha? Penso que não. Acho que o trajeto que fizemos até agora, se o mantivermos, acho que está bem. Nem sempre ser-se conhecido é bom.

Digo isto porque não temos muitos grupos do setor têxtil que estejam verticalmente integrados. Quer dizer, desde o fio até à distribuição, o grupo Polopiqué contém todas as fases do processo produtivo, emprega 800 pessoas e, indiretamente, dá trabalho a 2000 pessoas. Portanto, isto é uma coisa já muito séria, com uma produção acima de 100 milhões de euros. Fale-nos um bocadinho da evolução deste conjunto de empresas. Este conjunto de empresas nasceu um pouco naquela fase em que toda a gente queria abandonar a indústria têxtil. Eu já vinha de uma família ligada à indústria têxtil, exportadora…

De Santo Tirso. De Vizela. Caldas de Vizela. Enfim, eu saí [do negócio] da família em 1995. Em 1996, decidi montar a minha própria empresa, que foi a Polopiqué, juntamente com a minha mulher. Sempre acreditámos na exportação e, desde o início, fomos sempre exportadores para toda a Europa.

Portanto, desde o início que teve noção de que o mercado interno era um sapato demasiado pequeno para o pé… Com certeza que sim. Somos muito pequenos. Nós somos 10 milhões de pessoas, somos cinco ou seis milhões de consumidores.

E posicionaram-se, desde a primeira hora, para a exportação. Sempre para a exportação.

E que ideia concreta de exportação era essa? Era para Espanha, era para outros países europeus, era para fora? Não. No início foi quase como fazer uma prospeção: onde é que iríamos encaixar. E andámos assim durante quatro anos.

Até ao princípio do milénio, portanto. Sim. Até ao princípio do milénio, exatamente. Até que tive a perfeita noção de que, da maneira como o mundo evoluía e da maneira como a indústria evoluía a nível mundial, nós teríamos de posicionar-nos junto dos grandes distribuidores. E foi aquilo que eu fiz. Portanto, conhecendo-os já desde há muitos anos, trabalhando com eles desde os anos 1980…

Eles? Eles, Grupo Inditex.

Nem mais nem menos do que a Zara, como é conhecida a marca comercial que hoje está presente em 88 países, certo? Sim, nos cinco continentes, mais propriamente dito.

Mais de 6000 mil postos de venda. Quase 6000. Penso que neste ano vão ultrapassar os 6000. Portanto, estou ligado a esse grupo, porque os conhecia desde sempre, desde meados dos anos 1980, quando começámos a trabalhar com eles, ainda na empresa familiar, com os meus pais. Depois, quando montei a empresa em 1996, também comecei a trabalhar com eles e, em 2000, foi quando achei que deveria, de facto, apostar num grande grupo distribuidor, que era para onde caminhava o mundo. E, se virmos hoje em dia, temos meia dúzia de grandes marcas mundiais, onde o Grupo Inditex – entre aspas, Zara – é conhecido e que é o que está posicionado em primeiro lugar. Há outros com quem a nossa empresa também já trabalhou, como a H&M ou a própria Gap. Mas, de facto, a Inditex, pela proximidade que tínhamos, pela qualidade de serviços que Portugal oferecia, pela nossa qualidade de produto e, enfim, pelo conhecimento que eu também já tinha…

E pela confiança, também, pessoal que existia, não é? E pela confiança pessoal, também, que já existia. Foi o caminho que eu achei mais indicado.

Mas a Polopiqué tem um papel muito importante porque é o segundo maior fornecedor para a Inditex a nível mundial. É uma relação que foi crescendo ao longo destes anos e eu sempre percebi bem – pela amizade que tínhamos, até, com alguns diretores de empresa – aquilo que falávamos acerca da necessidade que tinham de ter um parceiro do just in time. E eu fui-me adaptando: eu próprio, as empresas e tudo isso. Chegar a esses números, segundo dizem – porque, muito honestamente, eu não sei se é verdade ou mentira mas dizem que sim –, é agradável de saber.

Por aquilo que me está a dizer, portanto, a fiabilidade nos tempos de produção e de fornecimento e a qualidade são fatores essenciais para poder vingar neste negócio. Importantíssimos. E isso só se consegue, realmente, se as pessoas tiverem essa perceção: de que o tempo – e infelizmente isso mantém-se na cabeça de muitos empresários portugueses –, o tempo de “isto tem de ser feito mas precisamos de mais tempo para isto ou mais tempo para aquilo” já acabou. Isso não faz sentido. Hoje uma senhora vai a uma loja todas as semanas fazer compras e todas as semanas quer ver coisas diferentes. Ora não é com um ciclo de produção que se consegue isso.

É isso que a Polopiqué procura fazer? Uma rápida rotação das modas e uma adaptação a novas tendências e impulsos da procura? Foi isso que a Polopiqué fez ao longo destes anos e, por isso, sobreviveu a toda a crise da indústria têxtil de Portugal. Crise essa em que eu nunca acreditei, porque o que eu acreditava era que não havia gestores à altura que conseguissem incentivar os seus colaboradores para que pudéssemos passar ao largo de toda essa crise. E a prova é a Polopiqué. Quer dizer, nós nascemos em plena crise do vale do Ave e nascemos, crescemos e hoje somos o grupo que somos.

Portanto, o segredo é uma boa gestão, bons quadros e boa remuneração para os colaboradores da empresa. Isso é fundamental.

Para ter boa capacidade de resposta. Nós temos de perceber que ninguém trabalha de graça e as pessoas têm de trabalhar incentivadas. E incentivar os quadros, os colaboradores, é importantíssimo. Especialmente numa indústria como a têxtil, porque dentro da indústria têxtil temos setores que são altamente prejudicados pelos salários mínimos nacionais. Infelizmente ainda não tivemos gente que conseguisse reparar nisso. E a Polopiqué, de alguma maneira, tem conseguido passar ao largo disso, incentivando-os com melhores salários e outras condições.

O salário mínimo, na sua empresa, é de 600 euros? Neste momento já está acima dos 600 euros. São muito poucas as pessoas que ganham 600 euros. E, além disso, damos outras regalias sociais, como os seguros de saúde – aos colaboradores e seus dependentes e cônjuges –, os seguros de vida, distribuímos uma percentagem dos lucros por todos eles…

É um tipo de gestão que puxa, não é verdade? E que alicia as pessoas e as tira do Fundo de Desemprego, que começam depois a dizer que vale a pena trabalhar.

E é capaz de medir que ganhos de produtividade conseguiu com essa política? Consegui. E consegui com uma frase muito simples que é esta: eu não conseguiria nada se não fosse com isso. A empresa não chegaria ao nível que chegou se não fosse com isso. É muito importante olhar para a cara dos nossos colaboradores e vê-los a rir todos os dias. E só os conseguimos fazer rir se eles se sentirem parte da empresa, se eles sentirem orgulho na empresa onde estão e onde trabalham. E isso só é possível fazendo-lhes sentir que, realmente, são parte da empresa, que colaboram e que, no final, recebem esses [dividendos].

Portanto, isto é um exemplo de indústria têxtil que está longe daquela ideia miserabilista que ainda temos do setor, com práticas de subestabelecerem trabalho infantil, etc. Isso já não tem, para si, futuro de espécie nenhuma não é? Não. E eu acho que não tem. E a minha presença aqui espero que até sirva para isso, para cortar de vez com essa ideia. Porque muitas vezes, infelizmente, os media também são levados a isso, a essas grandes frases jornalísticas, que não é verdade, não faz sentido.

Estando ligado ao Grupo Inditex, à Zara, então a internacionalização faz-se, basicamente, olhando para Espanha ou para outros mercados externos? Não. Para outros mercados. Aliás, nós temos a nossa indústria verticalizada. Na área do vestuário e confeção trabalhamos com o Grupo Inditex – e eu falo sempre no Grupo Inditex porque ele tem várias marcas, são vários clientes – mas noutra atividade industrial, que é a parte da produção de tecidos, nós vendemos para os cinco continentes, também. Os nossos produtos são distribuídos por todo o mundo.

Mas para poder exportar 90 milhões de euros dos 106 que produziu no ano passado também tem de importar. Tem de importar muito? Sim. Fibras, energia e máquinas. Basicamente é isso.

E isso é muito desse valor? Representa um bocado. Não muito, mas ainda representa cerca de 15% desse valor.

Para muitas empresas, às vezes os custos da energia são tão ou mais pesados para a formação dos preços finais do que a própria mão-de-obra. Fale-nos dos investimentos no setor energético. Até tem uma empresa autonomizada para isso, não é? Sim mas essa empresa ainda não é o objetivo final. É só para ter uma ideia e para perceber o que representa a fatura energética que nós pagámos no ano passado, que foi de quatro milhões e 300 mil euros. E está sempre a subir. Portanto, eu para compensar os colaboradores e para continuar a dar-lhes…

Tem de ter espaço interno. Tenho de ter espaço interno, exatamente. Portanto, havia realmente a parte energética. Portugal é um dos países mais caros do mundo e aí é que o governo precisava de olhar para a indústria de outra maneira. E essa era uma das vias, reduzir a fatura energética.

A fatura energética para as empresas. Para as empresas. Nós estamos a tentar. Estamos agora com um plano já, inclusivamente, orçamentado para a implementação dos painéis fotovoltaicos. Felizmente agora nós podemos produzir energia para nós próprios, portanto, é isso que vamos fazer com essa implementação. Com os painéis fotovoltaicos, como temos uma área muito grande de instalação, vamos aproveitar e…

E vão reduzir os custos. Espero bem que sim. Pelo menos há essa intenção.

Quais são as perspetivas para a empresa neste e nos próximos anos e até que ponto precisou de um braço financeiro que amparasse a sua expansão, nomeadamente, bancos para financiamento, para tesouraria, para vencer esta última fase menos boa em que houve uma retração da economia, etc.? Foi importante. Sem dúvida que os bancos nestes últimos dois, três anos foram importantes porque o grupo fez um investimento muito forte. Nós investimos nos últimos quatro anos cerca de 40 milhões de euros e a banca teve um papel importante, especialmente no apoio à tesouraria.

O que quer dizer que a empresa tem capitais próprios para o investimento, o que também não é a regra no país. O que também não é a regra no país. A empresa veio amealhando para poder fazer face a estes investimentos. Claro que a banca também contribuiu com algum, como é óbvio, mas muito pouco, residual. E a tesouraria, sim. Porque nós importamos muita matéria-prima, nomeadamente as fibras, que têm um ciclo muito longo. Só para ter uma ideia, nós compramos fibras com um ciclo de oito, nove meses. Portanto, as empresas precisam de apoio à tesouraria para fazer face a essas despesas.

As perspetivas são boas? Nós tivemos uma pequena retração nestes dois últimos anos também derivada dos investimentos que estávamos a fazer. E, nessa altura, houve uma pequena reação estratégica.

Sim. O pico chegou a 113 milhões de euros e agora está em 106 milhões, no ano passado. Mas isso também tem que ver com a nossa empresa do Brasil que baixou muito a faturação, por razões óbvias. Mas o futuro apresenta-se risonho.

Esperam crescer este ano e no próximo? Sim. Aliás, no primeiro trimestre já estamos com um crescimento bastante acima do esperado.

Muito bem. Muito obrigado, Luís Guimarães, por esta entrevista.

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